Palavras de Bernado Viana |
“(…)
A cultura tem assumido uma função de importância sem igual no que diz
respeito à estrutura e à organização da sociedade moderna tardia, aos
processos de desenvolvimento do meio ambiente global e à disposição de
seus recursos econômicos e materiais”, afirma o teórico da cultura
Stuart Hall, no texto A centralidade da cultura: notas sobre as revoluções culturais do nosso tempo.
A partir de tal ideia, a dimensão da cultura, contemplada em políticas
públicas, pode ser compreendida como fundamental para o processo de
desenvolvimento das cidades.
Tal perspectiva é compartilhada pelo secretário de Cultura e Lazer da
cidade de Sorocaba, interior de São Paulo, José Simões de Almeida
Junior, doutor em Artes pela Universidade de São Paulo e pós-doutor pela Universidade de Coimbra,
em Portugal. Conversamos com Simões sobre o tema da cultura enquanto
fator de desenvolvimento, entrevista que você confere abaixo.
Acesso – De que forma a cultura colabora para o desenvolvimento das cidades?
José Simões – Desde o clássico texto do Stuart Hall
sobre a centralidade da cultura, quando ele passa a observar a cultura
não mais como algo que é posto, ou que está ligado simplesmente a
categorias não visíveis dentro do processo econômico e do processo
social, nós começamos a perceber que a cultura e as produções artísticas
e seus desdobramentos na sociedade passam a ter um impacto direto na
economia. E, quando falamos em economia, cabe considerar que a economia
deixa de ser um elemento monetário para se considerar também as questões
ligadas à saúde, à habitação, ao esporte, ao bem viver. Um dos
elementos mais importantes na contemporaneidade é o bem viver, ou a
sensação de bem-estar, como um dos componentes para dizermos se estamos,
ou não, altamente “civilizados” – palavra que eu uso em tom de
brincadeira. Quando visualizamos ou intensificamos a noção de cultura
entre os cidadãos, conseguimos fazer com que ela possa atuar no
desenvolvimento da cidade. Esse é um detalhe importante, porque se eu
for a uma cidade de pequena dimensão, ou em um vilarejo, essas dimensões
de cultura, teoricamente, não são visíveis, mas estão lá, impregnadas
no dia a dia, nas ações de compartilhamento, ou naquilo que Milton
Santos chama de horizontalidades [segundo Santos, em Por uma outra globalização,
horizontalidades são extensões continuadas “em que os atores são
considerados na sua contiguidade, são espaços que sustentam e explicam
um conjunto de produções localizadas, interdependentes, dentro de uma
área cujas características constituem, também, um fator de produção”].
Acesso – É preciso, portanto, que uma cidade tenha seus espaços públicos culturalmente ocupados?
J. S. – É fundamental. A base da nossa proposta em
Sorocaba é a ocupação da cidade para desenvolver a noção de
pertencimento. Ou, retomando Milton Santos, a noção de ocupado e usado: o
espaço público tem que ser usado. Isso é fundamental.
Acesso – Como você vê as políticas públicas voltadas ao
desenvolvimento da cultura no âmbito municipal como, por exemplo, o
Sistema Nacional de Cultura?
J. S. – Essa comparação do Sistema Nacional de
Cultura com o Sistema Único de Saúde – quando você lê, você encontra
essa comparação –, é uma comparação que causa certo espanto. Eu posso
até compreender que quando se organizou o Sistema Nacional de Cultura se
quisesse ter uma segmentação, uma estratificação, portanto dar uma
unificação ao processo, uma ordenação. Mas eu acho muito difícil,
sinceramente, ordenar aquilo que, por norma, é rizomático e caótico. Eu
acho muito complicado. A gente perde sempre umas pontas e tenta
transformar aquilo que está fora para enquadrar [ao sistema]. Acho que a
cultura sempre vai ser rebelde nesses aspectos. Por isso, eu tenho lá
algumas questões, mas o sistema, hoje, é uma boa ferramenta.
Acesso – Sorocaba está integrada ao Sistema Nacional de Cultura?
J.S. – Sorocaba já está no Sistema Nacional de
Cultura. Já temos o conselho, já temos o plano, vamos organizar uma
pré-conferência e a conferência municipal de cultura.
Acesso – Que políticas culturais você destacaria no âmbito do município de Sorocaba?
J. S. – Hoje, estamos em um momento de buscar as
nossas políticas culturais municipais, porque não as tínhamos. Será
necessária uma política de ocupação do espaço público a partir da qual
possamos trabalhar com a noção de fruição estética, com atividades
artísticas e também adicionar a esse processo as formas de serviços. E
quando eu falo em serviços, estou falando em ampliar a cultura como algo
transversal – e essa seria uma outra política importante. Por isso,
temos feito um exercício de nos reunirmos com secretários de Esporte,
Meio Ambiente, Saúde, Educação, para desenvolver projetos nos quais a
cultura é transversal, todos buscando atingir a noção de pertencimento,
de ocupação e de uso dos espaços. A ideia básica é a seguinte: temos
cinco metas para a cidade, cinco eixos, uma cidade viva, bonita, humana,
competitiva e moderna. A nós, da Cultura, compete o eixo de cidade
viva. Compreendemos que uma cidade viva é uma cidade em que seus espaços
públicos e seus equipamentos culturais estão presentes e ocupados e
usados pelos cidadãos. Temos, então, uma grande responsabilidade nessa
gestão, uma meta.
Bernardo Vianna / Blog Acesso blog: Nivaldoacordaculturablogspot
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