Há 104 anos nascia Solano Trindade, o criador da poesia negra brasileira
HOMENAGEM PROJETO A COR DA CULTURA12ª REGIONAL DE ITABAIANA PB
Por Drielly Jardim
“A leitura dos seus versos deu-me
confiança no poeta que é capaz de escrever Poema do Homem e O Canto dos
Palmares. Há nesses versos uma força natural e uma voz individual, rica e
ardente, que se confunde com a voz coletiva.”. Assim Francisco Solano
Trindade, nascido em 24 de julho de 1908, em Recife-PE, foi descrito
pelo escritor e poeta Carlos Drummond de Andrade.
Poeta, folclorista, pintor, ator,
teatrólogo e cineasta, Solano Trindade fez uso de seu talento a favor da
luta contra o racismo e ao estudo e difusão da cultura afro-brasileira,
além de ser reconhecido por vários críticos, como o criador da poesia
“assumidamente negra” no Brasil.
Filho de um sapateiro e de uma operária,
Solano Trindade ajudou a organizar o I Congresso Afro-brasileiro,
ocorrido em 1934 em Recife, além de fundar a Frente Negra Pernambucana e
o Centro de Cultura Afro Brasileiro, também no Recife. Na década de
1940, residiu no Rio de Janeiro e posteriormente, em São Paulo,
transformou a cidade de Embu num centro cultural onde dezenas de
artistas passaram a viver da arte, o que fez a cidade ser batizada com o
nome de Embu das Artes.
Por não esconder que era lutador, grande
defensor da liberdade e da cultura negra no país, Solano Trindade
sofreu perseguições. Um de seus poemas mais conhecidos, “Tem Gente com
Fome”, foi musicado em 1975 pelo grupo “Secos & Molhados”. A música
foi proibida pela censura, sendo resgatada e gravada em 1980 por Ney
Matogrosso, no álbum “Seu Tipo”. Mas, por causa desta música, em 1944,
Solano foi preso e teve o livro “Poemas de uma Vida Simples” apreendido.
Além disso, em 1964, um dos seus quatro filhos, Francisco Solano,
morreu numa prisão da ditadura militar.
Entre suas publicações mais importantes
estão: Poemas de uma vida simples 1944, Rio de Janeiro, e Cantares do
Meu povo 1963, São Paulo, além de uma antologia chamada Poemas
Antológicos lançada em 2008 e ilustrada por sua filha Raquel Trindade.
No teatro, foi Solano Trindade quem
primeiro encenou a peça “Orfeu”, de Vinícius de Morais, em 1956, depois
adaptada ao cinema pelo francês Marcel Cammus. Como ator, trabalhou nos
filmes “Agulha no Palheiro”, “Mistérios da Ilha de Vênus” e “Santo
Milagroso”.
Por onde passou, Solano incentivou e
ajudou a construir inúmeras iniciativas culturais e políticas, dentre
eles o Teatro Experimental do Negro, que levou para a Europa um teatro
cheio de música, cores e poesia, com a influência de danças populares
como o maracatu.
Solano Trindade faleceu no Rio de
Janeiro, em 19 de fevereiro de 1974, aos 66 anos. Entretanto, deixou aos
brasileiros um verso que prova que sua obra é imortal: “Me tornei
cantiga determinadamente e nunca terei tempo para morrer”.
Obras - Confira abaixo o
documentário ”Solano Trindade – O Vento Forte do Levante”, de Rodrigo
Dutra, que tenta construir os caminhos e descaminhos de um dos maiores
poetas brasileiros, e a letra da famosa poesia “Tem gente com fome”.
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