Calçadores, de Jean-Batist Debret (1768-1848). Obra mostra escravos de ganho, principais participantes da revolta dos Malês
Durante
o Período Regencial da História brasileira, uma série de conflitos
ocorreu no país. Os conflitos tinham por objetivo a separação de certas
regiões e províncias para criar novos países, ou colocavam-se contra a
forma de organização da sociedade. Uma dessas revoltas foi a Revolta dos Malês, ocorrida em Salvador, capital da Bahia, em 1835.
Mas quem eram os malês?
Malê era o nome dado, na Bahia, aos africanos escravizados que tinham o islamismo como religião.
Diversas etnias e tribos africanas eram islâmicas, e quando as pessoas
desses locais foram escravizadas e trazidas para o Brasil, continuaram a
professar a mesma religião. As principais etnias que seguiam o
islamismo na Bahia eram nagôs e hauçá.
Porém, havia ainda uma diferença entre esses africanos em relação aos demais. Eles eram alfabetizados, sabiam ler e escrever, principalmente para que pudessem fazer a leitura do livro sagrado do islamismo, o corão.
A imensa
maioria dos brasileiros do período era analfabeta, o que garantia aos
alfabetizados funções que tinham maior possibilidade de deslocamento
pela cidade. Eles eram os escravos de ganho,
que trabalhavam para seus senhores em serviços urbanos que rendiam
dinheiro. A maior parte do dinheiro recebido era entregue ao dono do
escravo. Portanto, era uma função diferente dos escravos que trabalhavam
nas lavouras, por exemplo.
Viver como
escravo revoltava esses africanos. Além disso, inúmeras rebeliões tinham
acontecido na Bahia, e em Salvador, nas décadas anteriores à Revolta
dos Malês. A revolta contra os maus-tratos recebidos dos senhores, o
racismo sofrido pelos escravos, a proibição de praticar o islamismo e a
influência das rebeliões anteriores levaram os malês a se revoltarem.
A revolta
estava programada para ocorrer no dia 25 de janeiro de 1835. Nesse dia,
uma festa católica iria ocorrer nas proximidades de Salvador. Os
revoltosos pretendiam aproveitar a ida de seus senhores para a festa e
assim iniciarem a revolta. O objetivo era matar os brancos e também os
mulatos, tidos como pessoas que informavam a polícia das revoltas. Eles
haviam ainda conseguido roubar diversas armas para enfrentar as forças
policiais.
Mas eles
não tiveram sucesso na revolta. Dias antes eles haviam sido denunciados
por duas africanas libertas. Mesmo assim conseguiram tomar alguns
prédios do governo e instalações militares. Porém, não conseguiram
conter as forças policiais.
Muitos foram mortos e outros presos.
Outros tentaram fugir para a zona rural, mas foram capturados. Os presos
foram julgados e condenados à morte, a castigos físicos ou mesmo
obrigados a saírem do Brasil.
A Revolta
dos Malês causou temor na sociedade da época. Pelo fato de ser
organizada com a participação apenas de africanos escravizados e
libertos, a elite branca temia que mais escravos se rebelassem contra
eles. Motivos não faltavam já que os maus-tratos, castigos e a carga de
trabalho eram grandes. Por isso, apesar de ter durado apenas alguns
dias, a Revolta dos Malês foi uma das revoltas que causaram mais impacto
na sociedade brasileira durante o Império.
Por Tales Pinto
Graduado em História
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