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quinta-feira, 13 de junho de 2013

ATA DA AUDIÊNCIA PÚBLICA DE 23 DE ABRIL‏

 NEGRO RAIZ DE UMA HISTÓRIA

 


ATA Nº 12/2013

Aos vinte e três dias do mês de abril do ano de dois mil e treze, às nove horas e trinta e sete

minutos, na Sala Salzano Vieira da Cunha, no 3º andar da Assembleia Legislativa, reuniu-se a

Comissão de Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia (CECDCT), sob a presidência da

Dep. Ana Affonso. Realizou-se audiência pública para debater a implementação da Lei

10.639/03, que tratava do ensino da história e da cultura afro-brasileira no currículo da rede

de ensino estadual. Objetivava-se discutir, ainda, o projeto de institucionalização do Fórum

Permanente de Educação no Estado. Presente também a Dep. Marisa Formolo. A presidente

abriu a reunião, saudou a todos e anunciou a Mesa de Debates, formada pelas parlamentares e

por: José Antônio dos Santos da Silva, coordenador do Fórum Permanente de Educação e

Diversidade Etnicorracial do RS; Ângela Maria de Lima Nascimento, representante da Secretaria

de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (Seppir); Marielda

Barcellos Medeiros, assessora de Diversidade e representante da Secretaria Estadual de

Educação (Seduc); Antônio Maria Melgarejo Saldanha, representando o Conselho Estadual de

Educação; Márcia Helena Pilon Mainardi, coordenadora técnica da área de Educação, Cultura,

Turismo e Desporto da Federação das Associações de Municípios do RS (Famurs); Maria Isabel

Barbosa Alves, representando a União Nacional dos Conselhos Municipais de Educação no RS

(Uncme/RS); Gleidson Renato Martins Dias, da Comissão de Direitos Humanos da Procuradoria-

Geral do Estado (PGE); Ceusa Teresinha Ferrazo, representante da Seccional Gaúcha da Ordem

dos Advogados do Brasil (OAB/RS); Eudócia Garcia Andrade, diretora da Associação dos

Orientadores Educacionais do RS (Aoergs); Waldemar “Pernambuco” Moura Lima, do Movimento

Quilombista Contemporâneo; José Ivo Follmann, vice-reitor da Unisinos; e Adiles da Silva Lima,

representando o senador Paulo Paim. A Dep. Ana Affonso explicou a dinâmica do evento e

passou a palavra a José Antônio dos Santos, requerente da audiência. O presidente do Fórum

relatou a luta pela aprovação da Lei 10.639/2003. Trouxe um resgate histórico desde a

promulgação do documento legal, sem que fosse implementado até o momento. Não conseguia

enxergar no plano político pedagógico do Estado sinais reais para a imediata efetivação da lei.

Lembrou várias cobranças que foram realizadas sobre o tema, especialmente no ano anterior.

Os professores desconheciam a lei, sendo que eles teriam que ser os responsáveis por ministrar

o conteúdo. Sentia-se excluído pela ausência do secretário José Clóvis de Azevedo do debate.

Marielda Barcellos Medeiros explicou o motivo de ser a representante da Secretaria, dado ao

seu currículo na área. Lembrou as diferenças das várias regiões do Estado. Estava-se

caminhando de uma forma progressiva. Enumerou os princípios básicos seguidos na Secretaria,

como respeito à diversidade, busca da efetivação da Lei 10.639, garantia da aplicação da LDB. A

formação das coordenadorias e dos professores estavam sendo garantidas pelo governo desde o

início da gestão. Para isso, era necessário um tempo para habilitação. Havia a busca de parceria

das coordenadorias com instituições afins para efetivar a lei. Não se estava trabalhando

especificamente com os professores de disciplinas como história, artes e outras, mas sim de

modo transverso. A Seduc queria saber quais eram as regiões e os professores que não tinham

conhecimento da lei, uma vez que não era essa a realidade com que trabalhavam. Reconhecia

as fragilidades para resolver o problema, mas era uma inverdade dizer que a Secretaria não

estava preocupada com a questão ou que desmerecia o seu mérito. Citou os relatórios enviados

pelas CREs, onde havia o detalhamento da formação dos professores. Passaria cópia dos

relatórios à Comissão. Antônio Maria Melgarejo Saldanha apresentou o que o Conselho

produzira ao longo dos dez anos de aprovação da Lei. As resoluções ainda não estavam sendo

cumpridas. Exemplificou elencando algumas das resoluções. A obrigação não era apenas para o

ensino público, cabia também ao privado. O CEED queria saber o que estava sendo

implementado nas escolas e o que estava pendente. Gleidson Renato Martins Dias afirmou que

falar da Lei 10.639/03 era falar de racismo, assim como ao se falar em titulação de terras

quilombolas. Citou o que considerava avanços na área da educação, como a implementação de

cotas para negros dentro da Seduc. A Comissão de Direitos Humanos tinha uma proposta

concreta: a instalação de um centro de referência de formação do ensino da matéria, citando a

Unisinos, por seu histórico. Adiles da Silva Lima traçou um paralelo com Santa Catarina, onde a

situação era muito mais avançada. As diretrizes curriculares da lei eram claras e o plano

nacional dizia de onde vinham os recursos, além de definir o papel de cada um. As escolas

estavam à solta. Participara de um evento onde não havia representação negra. Leu um

documento para contribuir no debate. Pediu trabalho em rede das escolas com as secretarias

estaduais. Sugeriu aproximação dos conselhos, coordenação da Faced, Seduc e Ministério da

Educação para se debater seriamente o tema. Ângela Maria de Lima Nascimento explicou que

era secretária de Políticas de Ações Afirmativas da Seppir. Disse que a implementação de lei

ganharia uma amplitude maior a partir deste ano, constituindo-se em um desafio a sua

plenitude. Elementos importantes eram trazidos de práticas em escolas. Os estados de São

Paulo e Bahia apresentaram boas experiências para implementação da lei, podendo ser

utilizados como referências. Uma metodologia estava sendo preparada, em conjunto com a

Unicef e Ação Educativa, apontando indicadores para melhoria de convivência no ambiente

escolar, com promoção da integração dos alunos. Havia um sistema de políticas de promoção da

igualdade racial. Divulgou evento promovido pela Seppir. Maria Isabel Barbosa Alves

apresentou o trabalho feito para a implementação da lei pelos conselhos municipais. Mas não

bastava haver a legislação nos municípios se não havia fiscalização. Os relatórios citados pela

representante da Seduc não eram definitivos, pois não mostravam, necessariamente, a

realidade fática. Agora era necessário, acima de tudo, ação. Márcia Helena Pilon Mainardi

falou que o tema era preocupação da Famurs, mas que mudanças culturais sempre eram difíceis

de ser aplicadas. Todavia, as organizações não podiam deixar de demandar os municípios e as

escolas. José Ivo Follmann afirmou que a lei tinha tudo que era necessário para realmente ser

efetivada, tanto em termos de necessidade quanto de vontade política. A maior dificuldade era

os brancos reconhecer seu preconceito. A Dep. Ana Affonso justificou sua necessidade de saída

e passou a condução dos trabalhos à Dep. Marisa Formolo. Ceusa Ferrazzo falava em nome da

presidência da OAB/RS, que pedira à Comissão Especial da Criança e do Adolescente que se

fizesse presente. Relatou a forma com que o assunto estava sendo trabalhado naquela câmara.

Havia um trabalho de formação continuada para docentes, ensinando como cumprir a lei, de

forma humanizada. Colocou a experiência da OAB à disposição. Eudócia Garcia Andrade

explicou que a Aoergs englobava orientadores educacionais e que se propunha a incluir nos

cursos que disponibilizava o ensino do que era proposto na legislação. A criança negra tinha que

entrar na escola com a certeza de que era igual as de outra cor. Waldemar “Pernambuco”

Moura Lima definiu nossa sociedade como hipócrita, onde as leis eram criadas para beneficiar

aqueles que detinham o poder. As legislações que não tinham esse perfil possuíam uma grande

dificuldade em ser implementadas. O atual secretário de Educação tinha uma visão que

desconsiderava a luta desenvolvida pelo Fórum. Foi aberto, a seguir, o período de inscrições.

1) Richard Gomes, do Consea e Assobecaty, lembrou os dez anos de promulgação da lei sem

que houvesse aprofundamento de diversas questões. A regra não atingia apenas a população

negra, a discussão era da sociedade. 2) Rosemar Gomes Lemos, arquiteta e professora da

UFPel, estava representando a Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da universidade. Trouxe

proposição de que houvesse uma organização de ações conjuntas para planejamento, ação e

fiscalização de uma comissão a ser retirada nesta audiência. 3) Antônio Carlos Damasceno

Lima, vice-presidente da Fracab, sentia necessidade de maiores explicações do governo e da

Seduc sobre a não implementação legal. Sugeriu que preparassem um relatório a ser

disponibilizado à sociedade pormenorizando as capacitações e onde estavam sendo aplicadas.

4) Josiane Rodrigues de Oliveira, presidente do CNAB, também notara que o foco da audiência

fora sendo alterado. As ações do governo precisavam ser descritas, como e onde eram feitas. 5)

Juçara de Quadros, presidente do Conselho Municipal da Comunidade Negra de Caxias do Sul,

historiou sobre como fora implementada a lei no município. 6) Carmen Lucia Silva de Oliveira,

a Mãe Carmem de Oxalá, da Assobecaty, herdeira de uma casa de matriz africana, questionou a

Seduc sobre a invisibilidade dessa cultura na Secretaria. Teceu considerações sobre o papel das

mulheres negras nas casas de religião, que estava sendo colocado em segundo plano. 7)

Leunice Martins de Oliveira, professora da Faculdade de Educação da PUC-RS, representando a

Pró-Reitora Acadêmica e o Grupo de Pesquisa Educom Afro, fez um relato sobre as ações do

referido grupo. Sua proposição era a junção de esforços da instituições. 8) Débora Barbosa

Bauermann psicóloga e membro do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas da Unisinos

(Neabi) convidou para debate sobre a implementação da Lei 10.639/2003, que ocorreria nesta

data, na Unisinos, com a professora Lúcia Regina. 9) Pedro Lúcio Silveira, representante de

comunidade quilombola de Encruzilhada do Sul, afirmou que todas as conquistas se deram pelas

reivindicações dos movimentos sociais organizados. Comentou as conferências nacionais de

igualdade racial, que não resultaram em efetividade. 10) Malu Viana, da Frente Nacional de

Mulheres no Hip Hop e da União Brasileira de Mulheres de Porto Alegre (UBM), comentou o

extermínio de jovens no país, especialmente negros, além da falta de políticas públicas que

resgatasse a população ignorada. 11) Adevanir Aparecida Pinheiro, do Neabi Unisinos,

contextualizou a dificuldade da luta por direitos humanos no Rio Grande do Sul, não só nas

instituições quanto na academia. Teceu críticas à forma de condução do governo estadual em

relação ao tema proposto na audiência. 12) José Valdir Rodrigues da Silva, assessor

parlamentar do secretário José Clóvis de Azevedo, fez um contraponto à fala de Pernambuco.

Muitas leis não foram feitas para massacrar, tendo sido propostas e criadas a partir dos

movimentos sociais. Não existia racismo no governo. Em considerações finais, manifestaram-se

as autoridades a seguir. A Dep. Marisa Formolo lembrou do período em que presidira a

Comissão, entre 2007 e 2008, quando fora debatido o tema por mais de uma vez. Questionou se

o movimento negro cobrava de seus mandatários políticos a representação em seus gabinetes.

Lembrou que a crítica se concentrara no governo estadual, o que era entendível, mas também

outras instâncias tinham que ser cobradas pela não aplicação da lei. José Antônio Santos da

Silva reafirmou as críticas pela falta de retorno da Seduc. Fez comentários às menções

recebidas em relação à falta de ética. Conselheiros municipais, CREs e professores não sabiam

da Conae. O racismo era uma realidade tanto na sociedade quanto nos órgãos públicos.

Gleidson Martins Dias resumiu as sugestões. Havia um problema e cabia aos ativistas e ao

governo tentar resolvê-lo. Marielda Medeiros reafirmou não ser verdadeira a assertiva de que a

Secretaria não estava fazendo nada. Ponderou sobre a fala de José Antônio da Silva. Se

empenharia em levar os encaminhamentos da reunião. Ângela Maria de Lima Nascimento

detalhou o programa de Enfrentamento ao Racismo e a Promoção da Igualdade Federal, além de

outros que agiam na mesma esfera. A Dep. Marisa Formolo, em conjunto com a plenária

definiu como encaminhamentos: 1) Necessidade da formação continuada para docentes. 2)

Integração dos trabalhos desenvolvidos pelas universidades para fins de pesquisa e de formação,

com especialistas em ERER (Educação para as Relações Étnico-Raciais), alinhada com os

movimentos sociais. Integração dos Neabis das universidades. 3) Como a Lei 10.639 não se

destinava somente às escolas públicas, havia a necessidade de cobrança das escolas privadas,

especialmente as filantrópicas, em relação ao compromisso de adotar as práticas definidas pela

lei. 4) Aumentar a fiscalização pelos conselhos e movimentos sociais sobre as escolas, em

relação à aplicação da lei. 5) Agendar com o secretário da Educação, José Clóvis de Azevedo,

uma reunião onde receberia uma comitiva do movimento negro e entidades representadas na

audiência para ouvir sugestões para implementação da lei. A Comissão oficiaria o pedido. Seria

abordada a criação de um polo acadêmico de formação de educadores, com a participação dos

movimentos sociais. 6) A transcrição da reunião seria enviada à Seduc. 7) Aproximar, numa

mesa de negociação, Seduc, Ministério da Educação, conselhos municipais, estadual, Undime,

Famurs, MP, enfim, todas instituições que fossem ligadas à educação, para organizar as

demandas. 8) A Seduc deveria encaminhar todas as respostas pendentes ao Fórum de Educação

e Diversidade, desde 2010. Segundo seu coordenador, havia 22 documentos protocolados que

não haviam sido respondidos. 9) Se necessário, a Dep. Marisa Formolo apresentaria

requerimento de nova audiência pública para continuar o debate no próximo semestre. Nada

mais havendo a tratar, a presidente em exercício agradeceu a participação de todos e encerrou

a audiência às doze horas e cinquenta e três minutos, e eu, secretário, lavrei a presente ata,

que vai assinada por ambos, sendo posteriormente publicada nos termos regimentais.



Deputada Marisa Formolo,
No exercício da Presidência.
Sandro Rodrigues Martins,
Secretário.

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