Relogio: Vocês e o Tempo

quinta-feira, 6 de junho de 2013

José Simões – Cultura como fator de desenvolvimento das cidades

 
Palavras de Bernado Viana


“(…) A cultura tem assumido uma função de importância sem igual no que diz respeito à estrutura e à organização da sociedade moderna tardia, aos processos de desenvolvimento do meio ambiente global e à disposição de seus recursos econômicos e materiais”, afirma o teórico da cultura Stuart Hall, no texto A centralidade da cultura: notas sobre as revoluções culturais do nosso tempo. A partir de tal ideia, a dimensão da cultura, contemplada em políticas públicas, pode ser compreendida como fundamental para o processo de desenvolvimento das cidades.
Tal perspectiva é compartilhada pelo secretário de Cultura e Lazer da cidade de Sorocaba, interior de São Paulo, José Simões de Almeida Junior, doutor em Artes pela Universidade de São Paulo e pós-doutor pela Universidade de Coimbra, em Portugal. Conversamos com Simões sobre o tema da cultura enquanto fator de desenvolvimento, entrevista que você confere abaixo.
Acesso – De que forma a cultura colabora para o desenvolvimento das cidades?
José Simões – Desde o clássico texto do Stuart Hall sobre a centralidade da cultura, quando ele passa a observar a cultura não mais como algo que é posto, ou que está ligado simplesmente a categorias não visíveis dentro do processo econômico e do processo social, nós começamos a perceber que a cultura e as produções artísticas e seus desdobramentos na sociedade passam a ter um impacto direto na economia. E, quando falamos em economia, cabe considerar que a economia deixa de ser um elemento monetário para se considerar também as questões ligadas à saúde, à habitação, ao esporte, ao bem viver. Um dos elementos mais importantes na contemporaneidade é o bem viver, ou a sensação de bem-estar, como um dos componentes para dizermos se estamos, ou não, altamente “civilizados” – palavra que eu uso em tom de brincadeira. Quando visualizamos ou intensificamos a noção de cultura entre os cidadãos, conseguimos fazer com que ela possa atuar no desenvolvimento da cidade. Esse é um detalhe importante, porque se eu for a uma cidade de pequena dimensão, ou em um vilarejo, essas dimensões de cultura, teoricamente, não são visíveis, mas estão lá, impregnadas no dia a dia, nas ações de compartilhamento, ou naquilo que Milton Santos chama de horizontalidades [segundo Santos, em Por uma outra globalização, horizontalidades são extensões continuadas “em que os atores são considerados na sua contiguidade, são espaços que sustentam e explicam um conjunto de produções localizadas, interdependentes, dentro de uma área cujas características constituem, também, um fator de produção”].
Acesso – É preciso, portanto, que uma cidade tenha seus espaços públicos culturalmente ocupados?
J. S. – É fundamental. A base da nossa proposta em Sorocaba é a ocupação da cidade para desenvolver a noção de pertencimento. Ou, retomando Milton Santos, a noção de ocupado e usado: o espaço público tem que ser usado. Isso é fundamental.
Acesso – Como você vê as políticas públicas voltadas ao desenvolvimento da cultura no âmbito municipal como, por exemplo, o Sistema Nacional de Cultura?
J. S. – Essa comparação do Sistema Nacional de Cultura com o Sistema Único de Saúde – quando você lê, você encontra essa comparação –, é uma comparação que causa certo espanto. Eu posso até compreender que quando se organizou o Sistema Nacional de Cultura se quisesse ter uma segmentação, uma estratificação, portanto dar uma unificação ao processo, uma ordenação. Mas eu acho muito difícil, sinceramente, ordenar aquilo que, por norma, é rizomático e caótico. Eu acho muito complicado. A gente perde sempre umas pontas e tenta transformar aquilo que está fora para enquadrar [ao sistema]. Acho que a cultura sempre vai ser rebelde nesses aspectos. Por isso, eu tenho lá algumas questões, mas o sistema, hoje, é uma boa ferramenta.
Acesso – Sorocaba está integrada ao Sistema Nacional de Cultura?
J.S. – Sorocaba já está no Sistema Nacional de Cultura. Já temos o conselho, já temos o plano, vamos organizar uma pré-conferência e a conferência municipal de cultura.
Acesso – Que políticas culturais você destacaria no âmbito do município de Sorocaba?
J. S. – Hoje, estamos em um momento de buscar as nossas políticas culturais municipais, porque não as tínhamos. Será necessária uma política de ocupação do espaço público a partir da qual possamos trabalhar com a noção de fruição estética, com atividades artísticas e também adicionar a esse processo as formas de serviços. E quando eu falo em serviços, estou falando em ampliar a cultura como algo transversal – e essa seria uma outra política importante. Por isso, temos feito um exercício de nos reunirmos com secretários de Esporte, Meio Ambiente, Saúde, Educação, para desenvolver projetos nos quais a cultura é transversal, todos buscando atingir a noção de pertencimento, de ocupação e de uso dos espaços. A ideia básica é a seguinte: temos cinco metas para a cidade, cinco eixos, uma cidade viva, bonita, humana, competitiva e moderna. A nós, da Cultura, compete o eixo de cidade viva. Compreendemos que uma cidade viva é uma cidade em que seus espaços públicos e seus equipamentos culturais estão presentes e ocupados e usados pelos cidadãos. Temos, então, uma grande responsabilidade nessa gestão, uma meta.
Bernardo Vianna / Blog Acesso blog: Nivaldoacordaculturablogspot

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