Relogio: Vocês e o Tempo

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

PROJETO A COR DA CULTURA

Revolta dos Malês – 1835
Calçadores, de Jean-Batist Debret (1768-1848). Obra mostra escravos de ganho, principais participantes da revolta dos Malês
Durante o Período Regencial da História brasileira, uma série de conflitos ocorreu no país. Os conflitos tinham por objetivo a separação de certas regiões e províncias para criar novos países, ou colocavam-se contra a forma de organização da sociedade. Uma dessas revoltas foi a Revolta dos Malês, ocorrida em Salvador, capital da Bahia, em 1835.
Mas quem eram os malês?
Malê era o nome dado, na Bahia, aos africanos escravizados que tinham o islamismo como religião. Diversas etnias e tribos africanas eram islâmicas, e quando as pessoas desses locais foram escravizadas e trazidas para o Brasil, continuaram a professar a mesma religião. As principais etnias que seguiam o islamismo na Bahia eram nagôs e hauçá.
Porém, havia ainda uma diferença entre esses africanos em relação aos demais. Eles eram alfabetizados, sabiam ler e escrever, principalmente para que pudessem fazer a leitura do livro sagrado do islamismo, o corão.
A imensa maioria dos brasileiros do período era analfabeta, o que garantia aos alfabetizados funções que tinham maior possibilidade de deslocamento pela cidade. Eles eram os escravos de ganho, que trabalhavam para seus senhores em serviços urbanos que rendiam dinheiro. A maior parte do dinheiro recebido era entregue ao dono do escravo. Portanto, era uma função diferente dos escravos que trabalhavam nas lavouras, por exemplo.
Viver como escravo revoltava esses africanos. Além disso, inúmeras rebeliões tinham acontecido na Bahia, e em Salvador, nas décadas anteriores à Revolta dos Malês. A revolta contra os maus-tratos recebidos dos senhores, o racismo sofrido pelos escravos, a proibição de praticar o islamismo e a influência das rebeliões anteriores levaram os malês a se revoltarem.
A revolta estava programada para ocorrer no dia 25 de janeiro de 1835. Nesse dia, uma festa católica iria ocorrer nas proximidades de Salvador. Os revoltosos pretendiam aproveitar a ida de seus senhores para a festa e assim iniciarem a revolta. O objetivo era matar os brancos e também os mulatos, tidos como pessoas que informavam a polícia das revoltas. Eles haviam ainda conseguido roubar diversas armas para enfrentar as forças policiais.
Mas eles não tiveram sucesso na revolta. Dias antes eles haviam sido denunciados por duas africanas libertas. Mesmo assim conseguiram tomar alguns prédios do governo e instalações militares. Porém, não conseguiram conter as forças policiais.
Muitos foram mortos e outros presos. Outros tentaram fugir para a zona rural, mas foram capturados. Os presos foram julgados e condenados à morte, a castigos físicos ou mesmo obrigados a saírem do Brasil.
A Revolta dos Malês causou temor na sociedade da época. Pelo fato de ser organizada com a participação apenas de africanos escravizados e libertos, a elite branca temia que mais escravos se rebelassem contra eles. Motivos não faltavam já que os maus-tratos, castigos e a carga de trabalho eram grandes. Por isso, apesar de ter durado apenas alguns dias, a Revolta dos Malês foi uma das revoltas que causaram mais impacto na sociedade brasileira durante o Império.

Por Tales Pinto
Graduado em História

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