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quarta-feira, 31 de julho de 2013

Dia Mundial da Poesia: Mais do que um estilo literário é um sentimento

PROJETO A COR DA CULTURA

Poesia é mais do que uma escrita, do que o antónimo de prosa, é provavelmente a expressão mais forte de sentimentos, emoções e sentidos do poeta, o borbulhar de qualquer coisa que entoada dá vida e interpretada descobre mil "quereres dizer".

No Dia Mundial da Poesia expressámos o sentimento de António Jacinto, poeta angolano dos anos 60, numa declamação a duas vozes da "Carta dum Contratado", um poema que descreve o amor puro do kimbo.



Proclamado pela Unesco em 1999, o propósito do Dia Mundial da Poesia é promover o ensino, a leitura, a escrita e a sua publicação.

A poesia é, talvez, das poucas artes que independentemente do título permite a qualquer um interpretar consoante o que lhe vai na alma.

Em Angola muitos são os autores que escreveram e escrevem os seus sentidos e emoções neste estilo literário.

O SAPO escolheu sete, dentre muitos que fazem parte desta lista poetas que levaram a cultura angolana ao mundo. De António Jacinto a Alda Lara, de Agostinho Neto a Geraldo Bessa Victor, de Ondjaki a João Tala e João Maimona.

Sete que perfazem a perfeição, que representam outros 7x7 que aqui não foram citados, mas que igualmente marcam uma rima, uma estrofe, um verso, uma métrica poeticamente angolana.

Um poeta da geração Mensagem

António Jacinto do Amaral Martins, nasceu no Golungo Alto, em 28 de Setembro de 1924.

Destaca-se como poeta e contista da geração Mensagem e, em consequência de seus envolvimentos políticos, é preso no campo de concentração do Tarrafal, Cabo Verde, onde cumpriu pena de 1960 a 1972. Neste ano, foi transferido para Lisboa, em regime de liberdade condicional, onde exerceu a função de técnico de contabilidade.

Fugiu em 1973 e foi integrar a luta pela independência de Angola, participando nas frentes militantes do MPLA. Após a independência, foi ministro da Cultura de 1975 a 1978. Morreu em 23 de Junho de 1991.

Obras poéticas: “O grande desafio”, “Poema de Alienação”, “Oração”, “Carta dum contratado”, “Monagamba”, “Conto interior de uma noite fantástica”, “Castigo pra o camboio malandro”, “Era uma vez”, “Bailarina Negra”.

Muitos poemas deram origem a canções, grandes sucessos de tempos que hoje já não se vivem. "Meu Amor da Rua 11" de Aires de Almeida dos Santos é um desses sucessos, eternizado pela Banda Mara vilha.

Contemporâneos de António Jacinto, Alda Lara e Agostinho Neto são nomes referenciados sempre que se fala em poesia angolana. Pela caneta de ambos retratavam-se quotidianos, quadros tipicamente angolanos.

O poeta de Catete que foi Presidente da República

Agostinho Neto é uma das figuras mais faladas. Formado em medicina na Universidade de Lisboa, primeiro Presidente da República, preso político, prémio Lenine da Paz, o poeta nascido no Bengo (1922) foi um dos fundadores da revista Momento com Lúcio Lara e Orlando de Albuquerque.

Comparado a Léopold Senghor, foi um esclarecido homem de cultura para quem as manifestações culturais tinham de ser, antes de mais, a expressão viva das aspirações dos oprimidos, armas para a denúncia de situações injustas, instrumento para a reconstrução da nova vida.

Membro fundador da União dos Escritores Angolanos, foi eleito pelos seus pares o seu primeiro Presidente.

Das suas obras poéticas destacam-se "Sagrada Esperança", "Adeus à hora da largada", "Quitandeira", "Voz de Sangue" ou "Mussunda amigo".

Morreu em 1979 e deixou um legado de amor à cultura, mantido vivo por Maria Eugénia, sua mulher.

Das acácias surgiu Alda, a autora de Prelúdio, obra mais conhecida por Mãe Negra

Alda Ferreira Pires Barreto de Lara Albuquerque, nasceu em Benguela, Angola, em 1930. Casou com o escritor Orlando Albuquerque e muito nova foi para Lisboa onde concluiu o 7º ano do Liceu. Frequentou as Faculdades de Medicina de Lisboa e Coimbra, licenciando-se por esta última.

Ligada a algumas das actividades da Casa dos Estudantes do Império, chamou a atenção dos poetas africanos como declamadora.

Orlando de Albuquerque publicou a sua obra póstuma e também após a morte da poetisa, foi instituído o Prémio Alda Lara para a poesia pela Câmara Municipal de Sá da Bandeira.

Os seus poemas mais conhecidos são "Testamento", "Presença africana", "Anúncio", "Prelúdio", "Ronda" e "Poemas que eu escrevi na areia".

Ondjaki, o jovem menino das artes

Ndalu de Almeida ou simplesmente Ondjaki, estudou em Luanda e concluiu licenciatura em Sociologia em Lisboa. Tem experiência na área do teatro e da pintura, actualmente reside no Rio de Janeiro, Brasil.

Em 2000 obtém o segundo lugar no concurso literário António Jacinto realizado em Angola e publica o primeiro livro, “Actu Sanguíneu”.

Entre prémios, livros e documentários, Ondjaki é já uma referência na literatura angolana.

Foi laureado com o Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco em 2007, pelo seu livro “Os da Minha Rua”. Recebeu, na Etiópia, o prémio Grinzane por melhor escritor africano de 2008.

Em 2009 publicou o volume poético "Materiais para confecção de um espanador de tristezas".

O amor e a beleza feminina, por Geraldo Bessa Victor

Geraldo Bessa Victor escritor, poeta, ensaísta e jornalista era natural de Luanda (1917) e morreu em Lisboa em 1985.

Assumiu os modelos temáticos tão do agrado da população do continente, nomeadamente o amor, a beleza feminina e o poder do destino, enformando-os pela medida nova do soneto, obedecendo à sua norma estanque no que concerne ao seu esquema rimático e à métrica decassilábica que o caracterizam.

É justo dizer que o autor soube também cantar e exaltar os motivos africanos e mais concretamente os angolanos, como exemplificam os seus poemas "O menino negro não entrou na roda", "Kalundu" e "O Tocador de Marimba", os dois primeiros selecionados, em 1958, por Mário de Andrade na sua Antologia.


Geraldo Bessa Victor é autor, dentre outras, das seguintes obras: "Ecos Dispersos", "Mona dengue", "Ao Som das Marimbas", "Debaixo do Céu", "A Restauração de Angola", "Cubata Abandonada", "Mucanda".

Revelação da terra das quedas de Calandula

João Tala nasceu em Malanje a 19 de Dezembro. Iniciou-se na escrita no limiar da década de 80 quando residia no Huambo onde cumpria o serviço militar.

Nessa época funda a Brigada Jovem de Literatura Alda Lara e ingressa na faculdade de medicina. Já como médico exerce funções na Lunda Norte e posteriormente, em Luanda. Poeta ainda de reduzida obra, tem publicado o livro a "Forma dos Desejos", com o qual ganhou o seu primeiro prémio em 1997 da União dos Escritores Angolanos.

Tem no prelo o livro "Chão e Corpo de Líricas", primeiro lugar dos jogos Florais do Caxinde em 1999. Com a obra "O Gasto da Semente" foi lhe atribuída Menção Honrosa do prémio literário Sagrada Esperança, edição 2000.

Vários pontos de passagem, uma paixão, a poesia

João Maimona nasceu a 8 de Outubro de 1955, em Quibocolo, município de Maquela do Zombo, na província do Uíge. Em 1961 fez parte de um contingente de angolanos refugiados na actual República Democrática do Zaire.

Em Kinshasa estudou Humanidades Científicas e anos depois formou-se em Medicina Veterinária no Huambo.

É membro fundador da Brigada Jovem de Literatura do Huambo e é igualmente membro da União dos Escritores Angolanos.

Publicou as seguintes obras poéticas: "Trajetória Obliterada", "Traço de União", "Idade das Palavras"," As abelhas do dia" e "Quando se ouvir o Sino das Sementes".


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