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quarta-feira, 31 de julho de 2013

Há 104 anos nascia Solano Trindade, o criador da poesia negra brasileira

HOMENAGEM PROJETO A COR DA CULTURA12ª REGIONAL DE ITABAIANA PB


Por Drielly Jardim

“A leitura dos seus versos deu-me confiança no poeta que é capaz de escrever Poema do Homem e O Canto dos Palmares. Há nesses versos uma força natural e uma voz individual, rica e ardente, que se confunde com a voz coletiva.”. Assim Francisco Solano Trindade, nascido em 24 de julho de 1908, em Recife-PE, foi descrito pelo escritor e poeta Carlos Drummond de Andrade.

Poeta, folclorista, pintor, ator, teatrólogo e cineasta, Solano Trindade fez uso de seu talento a favor da luta contra o racismo e ao estudo e difusão da cultura afro-brasileira, além de ser reconhecido por vários críticos, como o criador da poesia “assumidamente negra” no Brasil.

Filho de um sapateiro e de uma operária, Solano Trindade ajudou a organizar o I Congresso Afro-brasileiro, ocorrido em 1934 em Recife, além de fundar a Frente Negra Pernambucana e o Centro de Cultura Afro Brasileiro, também no Recife. Na década de 1940, residiu no Rio de Janeiro e posteriormente, em São Paulo, transformou a cidade de Embu num centro cultural onde dezenas de artistas passaram a viver da arte, o que fez a cidade ser batizada com o nome de Embu das Artes.

Por não esconder que era lutador, grande defensor da liberdade e da cultura negra no país, Solano Trindade sofreu perseguições. Um de seus poemas mais conhecidos, “Tem Gente com Fome”, foi musicado em 1975 pelo grupo “Secos & Molhados”. A música foi proibida pela censura, sendo resgatada e gravada em 1980 por Ney Matogrosso, no álbum “Seu Tipo”. Mas, por causa desta música, em 1944, Solano foi preso e teve o livro “Poemas de uma Vida Simples” apreendido. Além disso, em 1964, um dos seus quatro filhos, Francisco Solano, morreu numa prisão da ditadura militar.

Entre suas publicações mais importantes estão: Poemas de uma vida simples 1944, Rio de Janeiro, e Cantares do Meu povo 1963, São Paulo, além de uma antologia chamada Poemas Antológicos lançada em 2008 e ilustrada por sua filha Raquel Trindade.

No teatro, foi Solano Trindade quem primeiro encenou a peça “Orfeu”, de Vinícius de Morais, em 1956, depois adaptada ao cinema pelo francês Marcel Cammus. Como ator, trabalhou nos filmes “Agulha no Palheiro”, “Mistérios da Ilha de Vênus” e “Santo Milagroso”.

Por onde passou, Solano incentivou e ajudou a construir inúmeras iniciativas culturais e políticas, dentre eles o Teatro Experimental do Negro, que levou para a Europa um teatro cheio de música, cores e poesia, com a influência de danças populares como o maracatu.

Solano Trindade faleceu no Rio de Janeiro, em 19 de fevereiro de 1974, aos 66 anos. Entretanto, deixou aos brasileiros um verso que prova que sua obra é imortal: “Me tornei cantiga determinadamente e nunca terei tempo para morrer”.

Obras - Confira abaixo o documentário ”Solano Trindade – O Vento Forte do Levante”, de Rodrigo Dutra, que tenta construir os caminhos e descaminhos de um dos maiores poetas brasileiros, e a letra da famosa poesia “Tem gente com fome”.

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